Pela vida que me foi dada.
Eu
nunca tive nada: nem família, nem amigos, nem mesmo um nome; não tinha, ao
menos, um deus para orar. Não sabia ler ou escrever. As palavras que eu
conhecia eram poucas, enquanto os calos nas mãos eram muitos.
Tudo
que eu sabia fazer era servir. Eu servia aos que se chamavam de “meus mestres”.
Eu servia porque a única coisa que eu conhecia era a dor, e eu a detestava.
Recuso-me
a chamar aquilo de viver, por isso, digo que existi naquelas condições por
muito tempo. Tempo demais. Não sei ao
certo quantos anos, afinal, eu não sabia contar.
O
dia em que eu nasci foi o dia em que as correntes foram partidas. O exército de
Ogrimar estava atacando a cidade onde eu estava. A guarda da cidade nem se
comparava ao poderio militar de Ogrimar. Em pouco tempo, a cidade era deles.
Meus
“mestres” se escondiam no celeiro, onde eu dormia. Eles me ordenaram que os
defendesse. Eu não sabia o que estava havendo, também não sabia o que era o tal
exército, mas eu sabia bem o que eles faziam comigo quando eu não cumpria o que
eles ordenavam: minhas desobediências ficaram cravadas em minhas costas.
Os
soldados chegaram ao celeiro. Eles usavam vestes de pele. O maior soldado era o
que possuía a maior quantidade de adornos; ele ostentava joias, peles e ossos
de criaturas grandes. Os “mestres” me ordenaram para ataca-los e eu obedeci.
Fui para cima de maneira desajeitada e o grande soldado me derrubou com uma só
mão. Ele se aproximou de mim e eu me encolhi, tentando me proteger dos golpes
que iria receber, mas o soldado não fez isso. Ele se ajoelhou na minha frente,
desembainhou sua espada e a ofereceu a mim. Eu lembro até hoje as palavras que
me foram ditas: “Essa espada é a nossa oferta, a empunhe e a honre, ou negue-a
e sucumba”. Com as mãos trêmulas, segurei no cabo da espada - ela era pesada, mas eu estava acostumado com
peso – e o soldado apontou para os meus “mestres”, indicando o que eu deveria
fazer.
Naquele
dia, um escravo morreu e Ugo nasceu.
Ogrimar
tratou de minhas feridas. Eles me deram roupas limpas, deram-me um deus, um
nome, um propósito e, acima disso, eles me deram uma chance de viver. Por
Ogrimar, eu lutei, tomei cidades, matei pessoas e salvei outros como eu.
Não
me arrependo do que fiz e digo que, enquanto minhas pernas se moverem, enquanto
eu respirar, honrarei a espada que foi dada a mim naquele dia. Quando a minha
hora chegar, morrerei feliz, pois sei que servi bem a aqueles que me deram a
vida.
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