As paredes da liberdade.


            É engraçado como as coisas acontecem. Eu lembro da época em que eu me achava invencível, inalcançável, achava-me um Deus dentre os mortais. Quando penso no antigo “eu”, só consigo rir da minha estupidez.

            Nunca passou pela minha cabeça que eu ficaria confinado em uma gaiola de pedras, e mesmo assim aqui estou, preso em um cubículo, sem sequer poder enxergar o sol.

            Eu machuquei muitas pessoas e fiz muitas coisas ruins, bem mais do que gostaria. O lugar onde estou foi moldado pelo meu “eu” do passado. Os crimes que eu cometi ergueram essas paredes e me jogaram aqui dentro.

            No começo essa cela roubava meu ar. Ela fazia minhas mãos tremerem e meu rosto soar, assim como eu fiz com várias pessoas.

            Por muito tempo eu pensei que esse era o troco que eu estava recebendo, eu achava que estava sofrendo pelas coisas que eu fiz. Há quem diga que essa é a verdade; eles estão certos em parte. Eu, porém, acredito que existe algo para além do sofrimento e demorei muito para entender isso.

As paredes que nos prendem fisicamente, ironicamente, são aquelas que possibilitam que nossas mentes sejam libertas. Aqui nós refletimos sobre nós mesmos, sobre as coisas que nós fizemos e naquilo que nos tornamos. Esse lugar serve para que nós possamos abandonar os erros do passado e dar boas-vindas a um novo futuro.

As barras que hoje me prendem um dia se abrirão e a pessoa que irá sair não será a mesma que entrou.


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