A imensidão do vazio.
Eu estava correndo atrás da minha bola de futebol quando ouvi um barulho bem alto, seguido de um grito e de repente tudo escureceu, mas logo em seguida minha visão foi recheada por uma luz cegante, da luz emergiu um homem, eu nunca tinha visto ele antes, mas não fiquei com medo.
- Olá. – Ele disse em um
tom suave.
- A minha mãe me disse
para não conversar com estranhos. – Falei enquanto andava para trás, apreensivo.
- Não se preocupe
pequenino, estou aqui para ajudá-lo, não irei fazer-te nenhum mal. – Ele disse
enquanto se aproximava.
- Onde... Onde eu estou?
- Em Todo lugar e em lugar
algum ao mesmo tempo.
- Eu estou com medo, eu
quero a minha mãe. – Falei enquanto as lágrimas escorriam.
O homem se aproximou de
mim, se abaixou em minha altura e tocou em meu ombro, seu toque era aconchegante,
assim como o de minha mãe.
- Eu receio que isso não
seja possível pequenino.
As suas palavras
acalmaram meu coração, eu não sentia mais medo.
- Diga-me, qual era a sua
brincadeira favorita? – Disse o homem enquanto sentava-se ao meu lado.
- Pique-esconde. –
Respondi entre soluços e lágrimas enxugadas.
- É uma das minhas
favoritas também, ela mistura estratégia com agilidade, é muito boa para
exercitar a mente e o corpo.
- ...
Após alguns segundos de
silêncio, sentei-me ao seu lado.
- Qual era a sua comida
favorita? - Perguntou-me o homem.
- Sorvete de morango.
- Pelo visto você gosta
de algo mais doce?! Particularmente eu prefiro de baunilha.
- ...
- Posso perguntar algo ao
senhor? – Perguntei ao homem.
- Mas é claro! Sinta-se à
vontade. - Ele respondeu enquanto encarava o vazio a sua frente.
- Qual é o seu nome?
- As pessoas me chamam de
diversas coisas, não me prendo a nenhum em particular, mas sendo bem sincero,
sempre achei o nome “Henrique” muito bonito.
- Entendi...
Levantei minha cabeça e
passei a acompanhar o vazio junto com o homem, era uma imensidão sem fim.
- Diga-me pequenino, tens
algum arrependimento?
- Não sei, eu acho que sim.
- E que arrependimento
seria esse?
- Bem... Tem essa garota
na escola, ela é muito bonita, tem longos cabelos encaracolados e ela cheira a
chocolate, eu sempre dava metade do meu suco para ela na hora do recreio, nós
chegamos a segurar as mãos uma vez no pique esconde, mas eu nunca disse a ela o
que eu sentia... Acho que... Agora não dá mais né?
- Eu receio que não
pequenino.
- Que droga!
- Sim, é realmente uma
droga. Tem mais algum arrependimento?
- Acho que sim, teve uma
vez que eu quebrei a louça da mamãe, mas eu coloquei a culpa no Teco, o nosso
gato, ele levou uma bronca daquelas, nunca me desculpei com ele por isso.
- Isso é tudo?
- Acho que sim... Ah! Eu
acho que eu me arrependo de não ter abraçado a minha mãe mais, de não ter
jogado mais bola e de deixar de visitar meus avós para ficar em casa jogando vídeo
game.
- É bom saber disso,
tenho certeza de que eles te amavam muito.
- Sim, acho que sim.
- ...
- O que vai acontecer com
a minha mãe?
- Ela irá sofrer um
pouco, mas eventualmente ela ficará bem, não se preocupe, nenhum de seus pais
ou avós jamais irá esquecê-lo ou deixar de amá-lo.
- É bom ouvir isso.
- ...
- Senhor, o que vai
acontecer agora?
- Sinceramente falando,
eu não sei pequenino.
- Então... Então o que eu
devo fazer?
- Existem alguns caminhos
que você pode tomar, mas isso é escolha sua. – Ele disse enquanto se levantava.
– Se quiser, venha comigo, existem algumas crianças por aqui que também adoram
pique-esconde, tenho certeza de que elas adorariam te conhecer.
- ...
- Eu acho que quero ficar
um pouco mais.
- Assim que estiver pronto
pode me chamar, leve o tempo que precisar. – Com essas palavras o homem sumiu
da mesma forma que apareceu.
Então eu fiquei sozinho,
contemplando a imensidão do vazio e toda a sua beleza.
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